sexta-feira, 4 de abril de 2014

O Santo de Jardim que foi ser Padre em Natal: Pe João Maria


"PARA UNS MITO; PARA OUTROS, SANTO; PARA TODOS, 
UM EXEMPLO DE VIDA"



Para mim sempre foi Santo, ou foi assim que sempre ouvi falar dele. Canonizado, ou não, a fé e devoção ao Padre João Maria esteve sempre presente na vida de quem, como eu, nasceu e viveu nas proximidades do Alto do Juruá em Petrópolis. Lembro do Padre Eymar pedindo doações para construir a Igreja do Padre João Maria. Quantas quermesses, rifas e leilões eu participei empenhada na campanha para erguer a Igreja! 
Até hoje o dobrar  dos sinos da Igreja, chamando os fiéis para a missa, me emociona e me faz voltar ao tempo em que,  grande parte da minha vida girava em torno dela, seja nas missas dominicais, nas reuinões do Clube de Jovens, nas novenas do mês de maio, nas procissões, nos batizados de irmãos, sobrinhos e afilhados ou nos casamentos de amigos.
Atualmente a igreja é  conhecida como Igreja Matriz da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes; contudo, mesmo com todo respeito e devoção que tenho por Nossa Senhora de Lourdes , a igreja do Alto do Juruá será  sempre a minha igreja, a Igreja que, de certa forma, ajudei a construir -  será sempre a Igreja de Padre João Maria.

SOBRE PADRE JOÃO MARIA 




"João de Deus", "Pastor dos pobres", "Apóstolo de Natal" "Anjo da Cidade de Natal", são alguns nomes atribuidos ao Padre João Maria pela população da cidade.Todos os seus contemporâneos são unânimes em afirmar que o Padre João Maria era mais que um sacerdote. Era também médico e assistente social dos necessitados, a quem sempre atendia com presteza e solicitude. Desprendido escolheu a pobreza como regra de vida. Conta-se que até as suas batinas ele as repartia para agasalhar o pobre doente nas madrugadas frias. Era visto sempre percorrendo a pé, ou montado num jumento os bairros mais pobres de Natal, transmitindo mensagens de esperança aos miseráveis, levando aos doentes medicamentos homeopáticos preparados por ele mesmo ou prestando conforto espiritual aos moribundos, a quem era comum, naquela época, conceder extrema unção na hora final. Tinha um lema, que cumpriu a risca: "Ser tudo para todos".





João Maria Cavalcanti de Brito nasceu 23 de junho de 1848, na fazenda Logradouro do Barro, zona rural de Caicó, uma localidade que hoje pertence ao município de Jardim de Piranhas, onde desde cedo, acompanhou o drama das vítimas da estiagem que ainda hoje assola a região. 
Seu pai Amaro Soares Cavalcanti de Brito era professor primário e lhe ensinou as primeiras letras. Sua mãe, Ana de Barros Cavalcanti teve mais quatro filhos, além dele, que era o mais velho: Militana, Ana, Josefina e Amaro Cavalcanti. Este último, o caçula, tornou-se renomado jurista, chegando a ocupar os Ministérios da Justiça e da Fazenda. Foi, também, seu protetor, enviando-lhe mesada que era, quase sempre, repassada aos pobres.
O jovem João Maria deu continuidade aos estudos em Vila Nova do Príncipe, hoje Caicó. Cresceu em ambiente católico o que contribuiu para lhe despertar a vocação religiosa.    Oriundo de família pobre, mas respeitada na vizinhança, contou com a ajuda financeira de fazendeiros amigos para custear seus estudos no Seminário de Olinda (PE), para onde viajou a cavalo aos 13 anos, acompanhado do pai, para fazer o curso eclesiástico.






Seus estudos de Teologia foram concluídos no Seminário Maior de Prainha em Fortaleza/CE, onde recebeu as ordens sacras, conferidas por Dom Luís Antônio dos Santos, bispo da diocese do Ceará, em novembro de 1871. Ordenou-se aos 23 anos, rezando sua primeira missa no domingo dia 10 de agosto de 1871, em Caicó, onde ficou trabalhando como auxiliar dovigário. Depois foi vigário em Jardim de Piranhas, Santa Luzia do Sabugi (PB), Acari, Papari (hoje Nísia Floresta) e, por fim, Natal, onde tomou posse da paróquia de Nossa Senhora da Apresentação em 7 de agosto de 1881, substituindo o padre José Hermínio.





Sacerdote, médico e assistente social. Sua fama já era conhecida de todos quando chegou a Natal, principalmente pelo trabalho que realizou em Papari, numa época de grande seca. O padre  Improvisou palhoças para abrigar os flagelados, a quem dava de comer, ministrava medicação natural para os enfermos e cuidava das crianças. Tinha uma preocupação especial com a higiene destas pessoas, orientando sobre os modos de como prevenir as doenças. Seu prestígio levou o governo a enviar roupa, dinheiro e comida para suprir as necessidades do seu rebanho. 



  
Casa onde morou o Padre João Maria em Natal
FOTO DE TITO GARCEZ

Foi na capital, porém, que seu trabalho ganhou mais visibilidade. Residiu na esquina da praça que hoje tem seu nome. Foi vigário de Natal durante 24 anos - de 1881 até a sua morte, ocorrida, em 1905. Naquela época, esta paróquia era imensa: estendia-se da foz do Potengi até o atual município de Bom Jesus, compreendendo ainda grande parte das povoações do litoral Norte, d'além Potengi, assim como as povoações do litoral Sul, indo até Pirangi. Toda esta extensão, o Padre João Maria percorria, rezando missa e levando-lhes a sua caridade e o conforto da palavra de Deus.





Sensível aos apelos do Papa Leão XIII e consciente da importância da imprensa para a evangelização, ele fundou o jornal "8 DE SETEMBRO", - primeiro jornal católico da cidade, cujo primeiro número circulou no dia 8 de setembro de 1897.
Visionário para o seu tempo, o Padre João Maria idealizou o projeto da nova catedral. Conseguiu com a dona Sofia Roselli a doação de um grande terreno no então bairro Cidade Nova, para a construção de uma nova catedral., e deu início a campanha para a sua construção. Diariamente, mobilizava o povo para, em procissão, rezando e cantando, transportar pedras da praia de Areia Preta para a construção do novo templo, situado onde, hoje, foi erguida a Nova Catedral. Algumas paredes ficaram numa altura de um metro e meio, mais ou menos. Com o seu falecimento, a construção parou.
Laborioso em sua luta pelos mais necessitados, em 1888, foi eleito presidente da Sociedade Libertadora Norte-Riograndense, objetivando a libertação dos escravos do Estado. Com essa finalidade,também publicou o Boletim da Libertadora Norte-riograndense.








Ao redobrar esforços para atender as vítimas de uma peste de varíola que se propagou na cidade, entre 1904/1905 começou a demonstrar, ele mesmo, os primeiros sinais de debilidade orgânica. Provavelmente resultado das noites mal dormidas, passadas em claro nos casebres onde velava pelos doentes. O médico diagnosticou diabetes, em estado avançado. Por recomendação médica, teve que procurar clima sadio e puro para ajudar no tratamento, sendo removido, por isso, para um sítio de propriedade da família Moreira Brandão, no Alto Juruá, hoje Petrópolis. Foi ali que ele viveu seus últimos dias.









Foi para lá  que o povo acorreu para rezar pelo seu restabelecimento. Às 8 horas do dia 16 de outubro daquele ano, aos 57 anos, padre João Maria faleceu na casa onde posteriormente foi erguida, em sua homenagem, a Igreja Nossa Senhora de Lourdes.
Seu velório reuniu cerca de 5.000 pessoas, mais da metade da população da cidade. No cortejo até o cemitério do Alecrim, onde foi sepultado juntaram-se pessoas de todas as camadas sociais.



Mausoléu do Pe. João Maria no Cemitério do Alecrim


No local da casa onde faleceu o Padre João Maria, no Alto do Juruá em Petrópolis, hoje bairro de Areia Preta, os católicos construíram a igreja de Nossa Senhora de Lourdes, uma iniciativa do Padre Emerson Negreiros, concluida pelo Monsenhor Eymard L'Eraistre Monteiro.A construção da igreja datra de 1956 e consta que o altar foi erguido no mesmo local da cama na qual faleceu o Padre João Maria.








Na igreja foi construido o Mausoléu que abriga restos mortais do Padre João Maria, transladados para esse local no dia 15 de outubro de 1979. Uma multidão estimada em cerca de dez mil pessoas, acompanhou a cerimônia. A exumação dos restos mortais foi feita com a autorização de Dom Nivaldo Monte de maneira que alguns res´duos permanececem no Cemitério do Alecrim e a maioria fosse levada para a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes.









O SANTO DE NATAL






Em 22 de fevereiro de 2002, foi aberto o processo de Beatificação do Padre João Maria. No momento esse processo encontra-se na fase diocesana em que realizada a investigação histórica.
Todos os meses, sempre no dia 16, é celebrada uma missa pela beatificação do Padre João Maria e realizada a unção dos enfermos, na Matriz da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Areia Preta.



MONUMENTOS EM HOMENAGEM AO PADRE JOÃO MARIA

No centro da cidade de Natal, na praça que também homenageia o Padre - Praça Padre João Maria, uma herma foi construida e inaugurada en 07 de agosto de 1919. Desde essa data que fiéis devotos do Padre João Maria rezam, acendem velas, fazem promessas, agradecem, colocam flores e ex-votos, sinais inconfundíveis de graças alcançadas.
Em Natal / RN
Um outro monumento construído em homenagem ao Padre João Maria está localizado na cidade onde nasceu, hoje Jardim de Piranhas.


Em Jardim de Piranhas / RN



FONTES
  •  Monsenhor Eymard L'E. Monteiro - "Esboço Biográfico do Pe. João Maria" Natal / RN - 1979.
  • Itamar de Sousa - In DN Educação - Projeto Ler - Diário de Natal - Fascículo Nº 2 - Natal / RN
  • Jeanne Nesi - Caminhos de Natal - Praça Padre João Maria - Natal / RN
  • Pesquisas Google - Sites:
  1. http://tribunadonorte.com.br/notícia/saudosismo-nas-redes/213410
  2. http://pt.wikipedia.org/?wiki/jo%C3%A3o_Maria_Cavalcant_de_Brito
  3. http://blogdetetelescope.blogspot.com.br/2011/08/praca-padre-joao-maria-natal-rn.htrm
  4. http://www.dei.rn.gov.vbr/contentproducao/aplicacao/dei/arquivos/nosdorn/nos1105.pdf

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