sexta-feira, 17 de junho de 2011

Igreja no Brasil
Torre do Santuário do Bom Jesus
“A igreja da Lapa foi
feita de pedra e luz.
Vamos todos visitar
o Senhor Bom Jesus”
Cântico dos romeiros
Stanislaw Wilczek
A cidade de Bom Jesus da Lapa não é nenhum centro turístico, comercial, ou mesmo industrial.
Sendo a Lapa um lugar não avantajado no sertão baiano e um tanto descuidado, é conhecido, entretanto, no Brasil inteiro.
Donde lhe vem tanta importância?
Vem do Santuário do Senhor Bom Jesus que abriga sua milagrosa imagem agasalhada na gruta, que se tornou famosa graças às romarias ao santuário, anualmente visitado por milhares de romeiros.


Interior da Gruta do Bom Jesus da Lapa
O morro do Bom Jesus
A 850 quilômetros de Salvador, margeando o rio São Francisco, bem no sertão baiano; aí é que se localiza o santuário do Bom Jesus da Lapa. Vê-se imponente, um maciço de calcário, de noventa metros de altura, recortado em galerias e grutas. De cor negra, o penhasco carrega em si a vegetação comum da região castigada pela seca. O morro parece um retalho de montanha calcária isolado no meio de uma planície, com a base quase dentro da água e a margem coroada de cactos, bromélias de espinhos e minaretes de formas diversas. Nele se encontram várias grutas: a do Bom Jesus com 50m de comprimento, 15 de largura e 7 de altura. Além disso, para admiração dos romeiros e visitantes, existem outras lindas grutas, porém menores.
A história do Bom Jesus da Lapa
O abrigo foi descoberto em 1691 pelo português Francisco Mendonça Mar, que exercia, como seu pai, a profissão de ourives e pintor. Com vinte e poucos anos de idade, em 1679, chegou a Salvador da Bahia, onde instalou sua própria oficina. Em 1688, foi encarregado de pintar o palácio do Governador Geral do Brasil, em Salvador, mas, ao invés de receber o pagamento, Francisco foi levado à cadeia e cruelmente açoitado. Tocado pela divina graça, reconhecendo a vaidade do mundo, ele aprendeu que a única coisa que vale é a salvação. Distribuindo seus bens, fez-se pobre e, acompanhado de uma imagem do Cristo crucificado, enveredou-se pelo sertão adentro. Caminhou entre tribos de índios antropófagos, passou fome, sofreu o calor do sol.
Dom Francisco Batistela abençoando os romeiros com a imagem milagrosa
Uma tarde, depois de vários meses de incessante caminhada, avistou um morro, subiu uma áspera ladeira e, por uma abertura na pedra, penetrou numa gruta.
Lá dentro, encontrou uma cavidade ideal para colocar a cruz que levava. Ali, à margem do rio São Francisco, começou uma vida de eremita.
Dedicado à oração e à penitência, o monge logo percebeu que o amor a Deus não pode ser isolado da vida; então começou a trabalhar em favor dos mais necessitados, trazendo para junto de si pobres, doentes, infelizes e aleijados, a fim de servi-los com amor.
No ano de 1702, a pedido do arcebispo da Bahia, dom Sebastião Monteiro de Vide, foi a Salvador preparar-se para o sacerdócio. Estudou durante três anos e, em 1705, foi ordenado padre.
Tomando o nome de Francisco da Soledade após a ordenação, voltou à Lapa onde viveu até sua morte, em 1722.
Os romeiros
A gruta, onde o monge Francisco colocou a cruz, tornou-se o santuário do Bom Jesus da Lapa. É mais do que uma cavidade na pedra: é um santuário construído pela mão da natureza e escolhido por Deus. Diante da imagem do Crucificado, ajoelham-se os romeiros de todas as idades, vindos de diferentes lugares do Brasil. Eles trazem consigo o coração penitente, uma oração fervorosa de palavras simples que brotam espontaneamente. No altar do Bom Jesus, podemos ouvi-los balbuciando preces; outros, em voz alta, fazem seus pedidos e agradecimentos; outros misturam palavras com lágrimas e outros pagam promessas, deixando ex-votos, como fotos, cartas, muletas etc. É a Ele que o romeiro recomenda sua vida e a de seus familiares e amigos, entregando-se a sua proteção. A promessa feita e cumprida é uma forma de agradecer a Deus por todo o bem que ele, “pobre homem”, recebe das mãos divinas. O romeiro caracteriza-se pelo chapéu de palha revestido rusticamente de tecido branco e fitas coloridas. A mais comum é a de cor branca, simbolizando a esperança. Um fato pitoresco na cidade é que quase todos os telefones públicos (orelhão) são em forma de chapéu.
O tempo da romaria
Multidão de romeiros no dia da Festa do Bom Jesus
Desde tempos imemoráveis, a festa do Bom Jesus é celebrada no dia 6 de agosto, mas, na verdade, o movimento dos romeiros começa logo após a festa de São João. A maioria dos romeiros chega em cima de carrocerias de caminhão, o chamado “pau-de-arara”, de ônibus, automóvel e até a pé, o que já faz parte do pagamento da promessa pela graça alcançada.
No santuário e na cidade, o movimento intensifica-se a partir de 28 de julho, quando se inicia a novena na esplanada, culminando no dia 6 de agosto com a celebração solene. Pela manhã e à tarde, há procissão pelas principais ruas da cidade, onde se destaca o andor carregando a imagem milagrosa do Bom Jesus da Lapa. No ano de 2000, o santuário foi visitado por mais de 1.200.000 romeiros e, em 2001, a Polícia Militar calcula que, no dia da festa, a cidade recebeu quase 300.000 pessoas. O tempo da romaria não termina com a festa, mas continua até o fim do ano. Mineiros, paulistas, cariocas, capixabas, goianos, baianos e outros, todos eles se encontram aos pés do Bom Jesus.
O fundador do santuário, pe. Francisco da Soledade, era muito devoto de Nossa Senhora. Peregrinando em busca do lugar ideal para fazer penitência, trazia também uma pequena imagem de Nossa Senhora das Dores. Desde o começo, no dia 15 de setembro, celebra-se a belíssima festa com a participação de milhares de peregrinos.

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