13Margherita, filha de Antônio e Amata Fogliano, nasceu em 1381 na vila Roccaporena, a cinco quilômetros de Cássia, na região da Úmbria, na Itália. No quinto dia após o batismo de Rita, como era carinhosamente chamada, registrou-se a sua primeira manifestação divina. Um grande enxame de abelhas brancas envolveu o cesto de vime onde ela ficava, à sombra das árvores, enquanto os pais trabalhavam no campo. Muitas delas pousavam em sua boca, depositando mel, sem ferroá-la, como se ali fosse um pequeno favo. Um trabalhador que auxiliava os pais de Rita, assustado com o que via, feriu-se com a própria foice, fazendo um talho em sua mão direita. Antes de seguir a Cássia para fazer o curativo, parou próximo ao cestinho de Rita, envolta por abelhas, e agitou suavemente as mãos para livrá-la do enxame. No mesmo instante, o ferimento se fechou. O milagre das abelhas brancas causou profunda admiração nos moradores de Roccaporena.
Ó gloriosa Santa Rita, cujo nascimento foi prenúncio da futura santidade celebrada pelos anjos, quando anunciaram aos vossos pais a boa-nova do vosso nascimento, compadecei-vos dos vossos devotos, de nossas crianças e concedei-nos, como prêmio do amor que professamos a vós, ser merecedores das graças de Deus em nossa vida. 




A INFÂNCIA DE SANTA RITA

12Santa Rita teve uma infância cercada de carinho. Filha de pais pobres e caridosos, sempre precisou ajudá-los na roça. O casal esmerou-se em educar Rita nos ensinamentos religiosos. Desde pequenina, ela os acompanhava nas orações em casa, nas novenas, missas e procissões. Ao chegar à idade da razão, recebeu a primeira Comunhão. Na adolescência, “conversava” com os anjos que a visitavam com frequência, despertando-lhe o desejo de ingressar no convento. Seus pais idosos, contudo, preocupados com o seu futuro, pensavam em casá-la com um marido que lhe proporcionasse a segurança desejada.
Salve, donzela imaculada, modelo de perfeita obediência, heroína da abnegação e do sofrimento, espelho de jovens honestas, da irrefletida e inconsiderada mocidade, aliviai o peso da tribulação e da tamanha amargura que oprime nossos corações, e dai-nos a graça de aceitar com fidelidade o chamado divino, para que cheguemos a alcançar a glória eterna.





A VIDA MATRIMONIAL DE SANTA RITA

7Mesmo tendo doado seu coração a Jesus, Santa Rita casou-se por imposição dos pais, frustrando assim seu desejo de ingressar no convento. Paolo Ferdinando, seu jovem marido, era um homem forte, estúpido e violento. Ele gostava de armas, brigas, mulheres e fazia parte de um grupo acusado de roubos e homicídios. Por isso, os primeiros anos de vida matrimonial de Rita foram terríveis, marcados inclusive por injúrias e espancamentos. No entanto, a paciência, a bondade e as orações dela converteram o marido, a ponto de fazê-lo pedir perdão por toda a violência cometida. Essa é uma das razões ao título de Santa dos Impossíveis, dado a Rita. A partir daí, Paolo, quando sentia que lhe sobrevinha a cólera, saía de casa até que ela se dissipasse.
Salve, mulher forte, esposa sem igual, que conhecendo a obediência e o sacrifício, como causa de santificação, renunciastes ao voto de virgindade para aceitar o matrimônio com um esposo cruel, velai por nós, para que sejamos fiéis ao convite de santidade que Deus nos faz. 




MORTE DE PAOLO, O MARIDO DE SANTA RITA

04Certa noite, ao voltar de Cássia para Roccaporena, nos montes Apeninos, Paolo Ferdinando foi barbaramente assassinado próximo a sua casa, vítima de emboscada. Graças às preces da esposa, Paolo havia abandonado a vida errante e violenta, estava desarmado e não esboçou reação. Rita perdoou o assassino e, conhecendo a natureza orgulhosa dos dois filhos, Thiago Antônio e Paulo Maria, exortou-os ao perdão. Todavia, Rita passou a viver um período de angústia: alimentados pelo ódio, os meninos passaram a se preparar para a vingança, aprendendo o manuseio de armas com um tio.
Ó gloriosa Santa Rita, modelo perfeito de virtude cristã, privada violentamente do esposo quando começáveis a provar os frutos da conversão operada na sua alma, depois de dezoito anos de orações, não só vos resignastes com uma perda tão irreparável, mas intercedestes em favor dos assassinos, intercedei para que tenhamos a fortaleza da aceitação dos desígnios divinos.





SANTA RITA E SUA ORAÇÃO PELOS FILHOS

10Viúva, Rita teve de assumir a responsabilidade da educação de Thiago Antônio e Paulo Maria que, estimulados por más companhias, tramavam a vingança da morte do pai. Percebendo que eles não escutavam os apelos para perdoar os assassinos, tomou uma resolução heróica: pediu a Jesus Crucificado que os levasse, se fosse humanamente impossível evitar que se tornassem criminosos. Ela não queria ver as mãos dos filhos manchadas de sangue, uma vez que estavam sendo treinados para matar. O pedido representava o holocausto de Rita, dilacerando-lhe as suas próprias entranhas. Os filhos caíram doentes e morreram um após outro, no transcurso de um pequeno intervalo, cerca de um ano depois da morte do pai. Rita colocou os despojos dos meninos perto dos de seu marido, ficando só no mundo.
Exemplo de confiança que, qual outra Mônica, sois modelo de mãe que sabe amar seus filhos, ensina-nos a entregar nossas famílias ante o temor da morte espiritual e fazei que com a mesma grandeza de alma perdoemos nossos inimigos, para que o Senhor perdoe nossas ofensas.




O PEDIDO DE SANTA RITA PARA ENTRAR NO CONVENTO

9Quando ficou viúva e sem filhos, Rita decidiu concretizar o sonho de ingressar no Convento das Agostinianas, mas a superiora lhe negou acesso porque não era virgem. Rita, com 40 anos de idade, insistiu por três vezes. A Santa encarou as recusas como um teste para pôr à prova a sua fé, e intensificou as preces a Nossa Senhora. O Padre Aloísio Teixeira diz que “não há Santo que não tenha sido devoto de Nossa Senhora, e Rita não foi exceção”. Na urna funerária de Rita havia um rosário, prova de sua devoção a Nossa Senhora.
Ó incomparável Santa Rita, tende piedade das inocentes almas que, como vós, outra consolação não têm, senão suas lágrimas e seu silêncio; alcançai-nos a todos a resignação nos trabalhos e a fortaleza na adversidade, para lutar valorosamente até conseguirmos a bem-aventurança eterna.






SANTA RITA É CONDUZIDA PELOS SANTOS AO CONVENTO

8Além da religiosidade mariana, Rita cultivava grande veneração a certos santos, principalmente a três, que ela escolheu para seus padroeiros: São João Batista, Santo Agostinho e seu conterrâneo São Nicolau Tolentino (nascido na Úmbria, em 1246). Uma noite, quando orava, ouviu alguém chamá-la: “Rita! Rita!”. Da janela viu três vultos que logo reconheceu como seus protetores. Tendo aceitado o convite a segui-los, percebeu, de repente, que estava no pátio interno do convento. As religiosas dormiam e a porta estava fechada, bem trancada.
Ó prodígio de santidade, mãe excelente e viúva irrepreensível!  Que para engrandecer e santificar todos os estados da vida, com vosso exemplo e perfeição, buscastes vestir o hábito religioso, ajudai-nos a confiar na intercessão dos santos, até que cheguemos finalmente a contemplar-vos na glória.






A ADMISSÃO NO CONVENTO

6Na manhã seguinte, Rita foi encontrada pelas religiosas na capela do convento e contou à madre como chegara ali. A superiora a advertiu sobre o rígido regulamento da instituição e os deveres que lhe seriam impostos, mas decidiu aceitá-la como irmã de segunda ordem – o equivalente a uma serva das freiras do convento. Rita conseguiu o que almejava por meio da oração fervorosa. Ela aceitou o ultimato da madre superiora para ingressar no convento, com o coração cheio de alegria. Era o ano de 1407. Além da faxina diária das fossas, cabia a Rita as mais duras tarefas do convento. Ela era a mais idosa candidata a noviça e, acostumada desde a infância a obedecer, não teve problema em cumprir os serviços que lhe eram atribuídos. Certo dia, para testar a obediência de Rita, a madre superiora pegou um graveto seco e mandou que ela o plantasse e o regasse todos os dias, pela manhã e à tarde. Desse pedaço de madeira seca começaram a brotar algumas folhas e, de repente, o graveto inútil transformou-se em uma viçosa parreira, que ainda existe no local. Até hoje, a venda das folhas secas dessa videira, recolhidas e plastificadas pelas freiras, ajuda na manutenção do convento.
Ilustre filha de São João Batista, de Santo Agostinho e de São Nicolau de Tolentino, que tendo conseguido vestir seu santo hábito e correia, e consagrando-vos totalmente a Deus pelos votos religiosos, dedicastes os anelos a purificar mais e mais vossas virtudes, ajudai-nos na perseverança de nossa escolha da santidade. 




SANTA RITA E O ATENDIMENTO AOS POBRES

5Rita de Cássia nasceu em uma família pobre. Quando casou com Ferdinando, que pertencia a uma conceituada classe social, passou a ter uma vida confortável, principalmente depois que conseguiu abrandar o gênio impetuoso do marido por meio de suas orações. Nesse período, Rita voluntariamente se fizera pobre, privando-se de alimento e de roupas para saciar os famintos e vestir os infelizes. No Convento de Santa Maria Madalena, em Cássia, Rita se manteve fiel à obra de caridade que abraçara, reduzindo a sua cota de alimentação para reparti-la com os pobres que iam à sua procura, tendo assim grande estima dos carentes e sofredores da região. Pouco tempo após ser admitida no mosteiro, na qualidade de irmã de segunda ordem, a humilde postulante conquistou o apreço da madre superiora e das conselheiras, tornando-se noviça.
Ilustre Santa Rita, concedei-nos o dom de preservar no nosso bom propósito da prática da caridade aos mais necessitados, ajudai-nos a manter nossos corações abertos à prática do amor e do bem, vencendo a ganância e o julgamento.






SANTA RITA E O ESTIGMA DA COROA DE ESPINHOS

10Na Sexta-Feira Santa de 1443, o beato Tiago Della Marca, da Ordem dos Menores, pregou em Cássia sobre a Paixão de Nosso Senhor. Rita ficou impressionada com as descrições das dores atrozes de Jesus Cristo ao ser pregado na cruz, após ter sido flagelado e coroado com espinhos. Ao voltar para o convento, ela prostrou-se diante do crucifixo da capela interior e suplicou ardentemente a Nosso Senhor que lhe fosse permitido sentir uma parcela de seus sofrimentos. De repente, um espinho da coroa de Cristo se desprendeu do crucifixo que estava sobre o altar e foi ao encontro de Rita, entrando tão profundamente em sua fronte que a fez cair desmaiada. Esse estigma na testa perdurou até a sua morte, deixando impressa a ferida que ainda se vê no seu santo e incólume cadáver.
Ó Serafim de Cássia, que pelas dores cruéis e rigoroso isolamento que vos proporcionou a ferida aberta em vossa testa, saibamos suportar com resignação cristã o peso das cruzes próprias de nosso estado, e que, como vós, experimentemos o gosto de morrer entre o sofrimento, crucificados com Cristo Jesus.





A VIAGEM JUBILAR

3O Papa Nicolau V promulgou o Jubileu do Ano Santo de 1450, abrindo o tesouro das indulgências para quem fosse a Roma nesse período. Na época, como não existia a rígida clausura do Concílio de Trento, as freiras de Cássia obtiveram permissão para a viagem jubilar. Rita também queria ir, mas as irmãs não a aceitaram no grupo por causa do mau cheiro que exalava da sua ferida na testa. Confiante, Rita foi à sua cela e orou com fervor. A ferida imediatamente cicatrizou e ela acabou incorporada à confraria, recebendo um auxílio pecuniário para a viagem. No caminho, entretanto, vendo as freiras discutirem por causa da quantidade de moedas que levavam, Rita pegou sua bolsa e a jogou no rio, com todo o auxílio que recebera.
Amada intercessora, que por vossa obediência, mortificação e confiança alcançastes a graça de participar da visita jubilar, num proveitoso crescimento para vossa alma, dignai-vos proteger-nos para que tenhamos um crescimento na Fé, na Esperança e na Caridade para com todos, fortalecendo nosso amor à Igreja e aos ensinamentos divinos que nos são transmitidos.





A ENFERMIDADE DE SANTA RITA

2A derradeira enfermidade de Santa Rita começou no fim de 1453 e durou quatro anos. Nesse período, ela ficou isolada do convívio das irmãs. A fama do milagre da chaga cicatrizada para a viagem a Roma, que se reabriu no retorno ao convento, atraiu muita gente em busca de orações e graças. No entanto, a idade, as dores, os jejuns e as penitências não tardaram em consumir as forças de Rita. Fatos curiosos se destacaram na sua enfermidade, como os dois pedidos feitos a uma parenta de Roccaporena, sua terra natal. Apesar da espessa neve que caíra na região, em razão de um rigoroso inverno, Rita pediu-lhe a colheita de uma rosa vermelha do jardim de sua casa, e de dois figos frescos e maduros do seu antigo pomar, que, surpreendentemente, foram encontrados no quintal. Os milagres da rosa e dos figos aumentaram o número de romeiros ávidos para ver a freira santa do Convento das Agostinianas. Certo dia, Rita orava quando uma luz brilhante iluminou sua cela. Jesus apareceu acompanhado de Nossa Senhora e anunciou: “Rita, em três dias estarás comigo no Céu”. A freira comunicou à superiora o sagrado encontro e pediu para receber o Santo Viático e a Unção dos Enfermos.
Ó prodigiosa Santa Rita, que no prolongado martírio de vossa vida recebestes o bálsamo das consolações: fazei que nas nossas tribulações desça sobre nossas almas o orvalho das divinas consolações, para que perseveremos sem desalento nas nossas orações, e não afrouxemos no exercício das práticas piedosas e no santo serviço a Deus.



A MORTE DE SANTA RITA

1Era costume, no mosteiro, o anúncio do falecimento das irmãs com o badalar dos sinos. Certa madrugada, porém, o sino soou por três vezes sem que ninguém o tivesse tocado. As freiras despertaram assustadas e viram uma intensa luz no isolado e afastado quarto de Rita. Naquele momento, um suave perfume de rosas inundou o mosteiro, e os sinos das Igrejas de Cássia passaram a repicar sozinhos, anunciando a partida de Rita para a eternidade. As irmãs correram para o quartinho de Rita, onde pensavam encontrar o horrível odor da chaga. No entanto, quando lá adentraram, sentindo o perfume do paraíso, acharam a Santa deitada na tábua que lhe servia de leito. Rita tinha o semblante belo e sorridente, e a ferida cicatrizada. A Irmã Catarina Mancini, que possuía um braço paralítico, quis abraçá-la e conseguiu, porque naquele instante foi curada por Santa Rita.
Ó gloriosíssima Santa Rita, cuja morte, semelhante em tudo à vossa vida, foi o ato mais terno e comovente que se pôde presenciar dentro dos claustros, nós vos suplicamos: concedei-nos a graça da perseverança final, de uma morte preciosa aos olhos do Senhor.


SANTA RITA NA GLÓRIA DO CÉU

Rita de Cássia foi beatificada pelo Papa Urbano VIII, em 1628, e canonizada pelo Papa Leão XIII, em 1900. Logo após sua morte, um enxame de abelhas negras apareceu e se alojou em colmeias construídas nos muros do convento. Até hoje, elas fornecem mel ao mosteiro e contribuem para a arrecadação de fundos. O mesmo ocorre com o graveto que Rita plantou e regou. Ele se transformou numa fértil parreira que, além das uvas e do vinho, gera renda com a venda das relíquias das folhas secas que caem ao chão. O Padre Aloísio Teixeira disse que Santa Rita, após entregar a sua alma a Deus, entrou no Castelo do Rei ao som dos sinos e dos coros angélicos, majestosa como uma princesa para a sua primeira festa no céu. Os sinos do mosteiro, que anunciaram a partida de Rita para a eternidade, não dobravam o som plangente dos mortos, mas repicavam alegres como nos dias de festa.
 Ó Santa Bendita, que engrandecestes os estados de vida femininos, deixando em todos admiráveis exemplos a se imitar, alcançai-nos a graça de cumprir honrada e nobremente os deveres de nosso estado, santificando-nos nele e salvando-nos por ele.