Santa Bernadette Soubirous redigiu, pelo próprio punho, em sete ocasiões, a descrição das Aparições, acrescentando novos detalhes em cada uma das versões.
Eis um apanhado tão completo quanto possível de todos eles:
“ A primeira vez que fui à gruta, era quinta-feira, 11 de Fevereiro.
Fui lá para recolher galhos secos, acompanhada de outras duas jovens.
Quando estávamos no moinho, eu perguntei-lhes se queriam ver onde a água do canal se encontrava com o rio Gave, e elas responderam-me que sim.
De lá, seguimos o canal e encontramo-nos diante duma gruta, não podendo mais prosseguir.
As minhas duas companheiras colocaram-se em condição de atravessar a água, que estava diante da gruta.
Elas atravessaram-na e logo começaram a chorar.
Perguntei-lhes por que choravam, e elas disseram-me que a água estava gelada.
Pedi-lhes que me ajudassem a deitar pedras na água, para ver se podia passar sem descalçar os sapatos, mas disseram-me que devia fazer como elas, se quisesse.
Fui um pouco mais longe, para ver se podia passar sem tirar os sapatos, mas não consegui. "
Esta preocupação explica-se porque Bernadette sofria de asma, pelo que a mãe não queria que ela apanhasse frio.
Nessa ocasião, ela apanhava galhos secos para aquecer a mísera habitação onde a sua família arruinada era constrangida a viver.
Bernadette prossegue o relato:
“ Então, regressei ao sítio da gruta e comecei a tirar os sapatos.
Tinha acabado de tirar a primeira meia, quando ouvi um barulho como se fosse uma ventania.
Então, voltei a cabeça para o lado do mato, no lado oposto à gruta.
Vi que as árvores não se moviam, e continuei a descalçar os sapatos.
Mas logo ouvi, uma vez mais, o mesmo barulho.
Quando levantei a cabeça, olhando para a gruta, vi uma Dama vestida de branco.
Tinha um vestido branco, um véu branco, um cinto azul, e uma rosa em cada pé, da cor do cordão do seu Terço.
Eu pensava estar a ser vítima duma ilusão.
Esfreguei os olhos; porém, olhei de novo e vi sempre a mesma Dama.
E logo coloquei a mão no bolso, para pegar no meu Terço.
Queria fazer o Sinal da Cruz, mas em vão: Não pude levar a mão até à testa, porque a mão caía.
Então, o medo tomou conta de mim, pois era mais forte do que eu.
Todavia, mesmo assim, não fugi.
A Dama tomou o Terço, que segurava entre as mãos, e fez o Sinal da Cruz.
A minha mão tremia; porém, tentei uma segunda vez, e então consegui.
Assim que fiz o sinal da Cruz, desapareceu o grande medo que sentia, ficando tranquila.
Coloquei-me de joelhos; rezei o Terço, tendo sempre diante dos meus olhos aquela bela Senhora.
A visão fazia mover o Terço, mas não mexia os lábios.
Quando acabei a recitação do Terço, Ela fez-me sinal com a mão para me aproximar, mas não ousei, ficando sempre no mesmo lugar.
E então a Senhora desapareceu, imprevistamente.
Comecei então a tirar a outra meia para atravessar aquele lençol de água, que se encontrava diante da gruta, a fim de alcançar as minhas companheiras e regressarmos a casa.
No caminho de volta, perguntei às minhas companheiras se tinham visto algo de especial.
– Não - responderam elas.
Perguntei-lhes mais uma vez, e disseram-me que não tinham visto nada. Eu roguei-lhes que não falassem disso a ninguém, e então elas interrogaram-me:
– E tu viste alguma coisa?
Eu disse-lhes que não, e elas responderam:
– Se não viste nada, nós também não.
Pensava que me tinha enganado; mas ainda no caminho de retorno a casa, perguntaram-me o que tinha visto, e voltaram várias vezes àquele mesmo assunto.
Eu não queria dizer-lhes, mas elas insistiram tanto, que finalmente decidi contar-lhes a visão, mas na condição de que não contassem isso a ninguém.
As duas companheiras prometeram-me que manteriam esse segredo.
Mas logo que chegaram às suas casas, a primeira coisa que contaram foi que eu tinha visto uma Senhora vestida de branco.
Foi esta foi a minha primeira visão. "
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